Sabático: Ser ou não ser imigrante?

Marco Rosner
4 min readMay 19, 2023

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Se você ta acompanhando essa saga e leu o último texto, a minha resposta pra essa pergunta já está clara. Antes de tudo, quero deixar claro que não busco aqui esgotar o tema e trazer uma verdade reveladora mas apenas minhas reflexões e uma pequeníssima pesquisa social sobre o tema durante o sabático. Se isso puder lhe ajudar de alguma forma, fico feliz.

Qual a parte boa e ruim de ser imigrante?

Quando meus amigos começaram a sair do Brasil para morar fora, sempre perguntava quais os pontos positivos e negativos de morar onde estavam e as respostas eram mais ou menos as mesmas focando nas soluções que encontraram para as partes ruins do Brasil. Durante a minha estadia na Europa, resolvi fazer uma pesquisa empírica perguntando aos meus colega: "Qual a parte boa e ruim de ser imigrante?"

Antes de falar sobre as respostas, quero atentar a construção da pergunta. Notei que a maioria das pessoas que convivi durante minhas viagens, não se viam com imigrantes e sim como locais (ou quase isso) porque a palavra imigrante tem uma conotação ruim, pesada. Lembrar esse fato no ato da pergunta, fazia muitas pessoas se lembrar da realidade, se encaixar em uma posição desconfortável e pensar na resposta de forma menos automática e mais víceral, verdadeira. E deu certo porque algumas das respostas foram surpreendentes mas quero trazer apenas duas que me fizeram pensar bastante.

A primeira foi a Etiene Dalcol, a multitalentosa já mencionada em um dos meus textos, que falou:

"O Brasil levaria anos para me dar o que eu tenho aqui"

Essa frase ecoou muito na minha cabeça porque ela é, pra mim, um misto de pressa de viver e um pouco de desengano no futuro do país. Eram tempos de governo Bolsonaro, não tenho como a julgar por isso. Mas, pra além dessa leitura rasa, tem algo a mais. Tem a avaliação de que o bem estar coletivo sentido no exterior afeta nossa individualidade a um ponto que podemos nos acostumar a viver longe do nosso país/nossa cultura.

A segunda foi do Alexandre Medeiros, um parceiro de trabalho e discussões filosóficas e políticas de Campina Grande, que falou que o choque cultural fez ele repensar hábitos e costumes e, nesse processo, além de se conhecer melhor, o fez criar uma nova identidade reunindo pontos culturais do país onde vive e do Brasil e ter vontade de trazer os seus para essa "nova realidade".

Entre todas as respostas que obtive há muito mais semelhanças do que diferenças porque, no fim, temos necessidades sociais bem parecidas pois temos a mesma cultura. Mas falar em cultura para quem mora no Brasil é algo quase sem sentido pq só percebemos a beleza da nossa cultura quando não convivemos com ela. A nossa cultura é muito normal e natural que nem a percebemos no nosso dia a dia. Mas imagine viver sem o churrasco, sem a feijoada, sem os sabores, sem as cores, sem os ritmos, sem o futebol, sem a hospitalidade e a disponibilidade, sem o melhor amigo de infância que você acabou de conhecer no bar/praia… E é quase óbvio que essa eterna saudade foi a resposta unânime de todos sobre a parte ruim de ser imigrante.

Meu ponto de vista

Lembro-me quando estava realmente pensando em morar fora que tive uma conversa com o Vagner Santana, parceiro de longa data da Gcom e Lucid, e ele defendia que se você tem a possibilidade de ter uma vida boa, economicamente e socialmente falando, aqui no Brasil, não há motivos pra viver fora. Passei um bom tempo pensando nesse argumento e até hoje não encontrei algo que possa bater ele, dado as condições propostas.

É possível sim identificar inúmeros pontos ruins para viver no Brasil mas as pessoas só esquecem que sempre haverá pontos ruins quando você conhece bem o objeto de estudo. Isso quer dizer que todos os lugares tem seus problemas e a comparação desses problemas isoladamente sem contar todo o contexto que carrega a vivência em outro país é quase sempre injusta.

Podemos comparar o medo da violência diária a possibilidade de sofrer um atentado terrorista?

Depois de todas as minhas andanças e pensamentos, entendi claramente que a minha cultura é uma parte muito importante da minha pessoa e que seria muito doloroso viver longe dela. Gosto muito da esculambação particularmente caótica do bar, da praia, do jogo de futebol de varzea, das comidas, das cores, do carnaval, do são joão e dos amigos de infância encontrados a todo momento e em qualquer lugar. Sem dúvida alguma, esse aqui é o meu lugar =)

Fun fact: Hoje, o Vagner Santana não mora mais no Brasil. As premissas, condições ou pensamentos podem sempre mudar. Estamos sempre mudando.

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