Sabático: Desenvolvendo novas habilidades

Marco Rosner
5 min readJul 6, 2023

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Depois da fase de introspecção, observação e aprendizado sobre mim mesmo e os outros, era preciso focar na segunda e não menos importante parte do sabático: desenvolver novas habilidades. Porém, quais? Queria algo que fosse verdadeiramente novo pra mim, fora de qualquer outra experiência que já tive antes e, obviamente, fosse desafiador.

Os desafios: carpintaria e agricultura
Durante a pandemia, me tornei fã de veleiros (👀) e, por consequência, interessado em carpintaria. Construir algo com minhas próprias mãos e ver o resultado depois seria algo fascinante, principalmente para quem sempre construiu coisas não palpáveis. Estudar sobre tipos de madeira, fazer orçamentos dos materiais, comprar equipamentos, planejar a construção, transportar… Muitas novas atividades vinham pela frente. Ótimo!

Outro ponto que sempre esteve presente nos meus pensamentos sobre o sabático foi o contato com a natureza. Me faz bem e queria desenvolver isso de alguma forma. Então logo pensei em plantar algo, não como trabalho mas pela vivência no campo, pela oportunidade de ver a natureza se desenvolver, de trabalhar com a terra, de desenvolver soluções novas que me ajudassem nas tarefas e ver o que eu poderia aprender nesse processo. Perfeito!

Com esses dois objetivos em mente, a questão que permanecia era onde eu iria conseguir desenvolver eles. Depois de uma conversa com meu irmão e minha mãe, passei a ficar responsável por um terreno semi abandonado de 2 mil metros quadrados que fica a 35 km de Maceió. Não poderia ser melhor! Mãos a obra!

A excitação do novo
Fazia muito tempo que eu não me jogava em um projeto verdadeiramente novo, sem quase nenhum conhecimento da área que iria trabalhar e o momento de maior euforia desse novo projeto foi quando eu comprei uma equipamento de carpintaria relativamente caro e estava levando para o terreno. Não pelo preço mas pelo medo de não saber usar, pelo medo de não conseguir fazer o que estava me propondo. Pouco tempo depois estava eu pensando que era exatamente daquilo que eu estava atrás, do medo do novo, do desconhecido, do aprendizado.

Porém, é impossível deixar nossa bagagem de lado. Pouco a pouco me vi fazendo paralelos entre o que eu estava fazendo (planejamentos, projeções, desenhos, medições…) e o que eu já estava acostumado a fazer nos projetos aos quais eu já trabalhei até aqui. Todo projeto tem suas peculiaridades mas quase todos seguem um ciclo básico de atividades, o difícil é lidar com as peculiaridades e desenvolver as habilidades necessárias para cada uma delas.

Do trabalho intelectual para o trabalho braçal
Durante toda minha vida, sempre desenvolvi trabalhos intelectuais, trabalhos com pouca ou quase nenhuma atividade física. Sempre sentado numa cadeira pensando, discutindo ou apresentando ideias. Disso a ter que se preocupar em acordar super cedo pra poder conseguir trabalhar até que o sol não estivesse tão quente, a ter que congelar água no dia anterior pra poder beber água ainda fria depois que o sol já descongelou ela, a ter que ter pausas a cada meia hora pra poder descansar do esforço feito, a ter que voltar a trabalhar só depois que o sol esfriar e ficar até escurecer. Não é fácil, não é romântico e não é nobre mas é enriquecedor, esclarecedor e de dar inveja a força das pessoas que fazem disso o seu dia a dia. Se puder, valorize-as!

A vida no campo tem outro ritmo, tem outro sabor, tem outra beleza. Durante o tempo que estive desenvolvendo esses desafios me dividi entre a cidade e o campo. O ritmo de vida que tinha no campo era completamente diferente da cidade. Apesar dos picos de esforço na "lida" (trabalho no terreno), existiam muitos momentos de pura contemplação da natureza, de cada detalhe mínimo, de percorrer cada centímetro do terreno e sempre ver algo diferente, de ver as cores das plantas mudando com o passar das horas e o cair do sol, de ver o mato que eu tinha capinado dias atrás crescendo novamente sem se importar com o esforço feito, de ver dia após dia a natureza cumprindo sua função com perseverança e simplesmente ignorando as intervenções do homem.

O que eu aprendi?
Nos 4 meses (jan-mai) que durou esse projeto, muito me perguntei o porque estava desenvolvendo ele mas assim como na primeira fase do sabático, tinha completa confiança que entenderia no fim e aqui está uma lista resumida do que aprendi:

  • Quanto maior e mais complexo o desafio, mais doarei de mim a ele.
  • Aprender é um vício, saber que eu sou capaz é um presente.
  • Ver o fruto de dias de esforço e dedicação é extremamente recompensador
  • Estar em contato com a natureza no dia a dia é absolutamente reconfortante

Infelizmente, tive problemas para comprar fertilizante para a plantação e acabei abortando o plano porque o solo do terreno é bem pobre e sem fertilizante não era possível continuar. Não diria que foi um adeus mas um até logo. 😃

E quero agradecer…
Primeiro ao meu irmão e minha mãe que concordaram em me ceder o terreno para desenvolver o projeto, segundo ao Neo que me ajudou em algumas tarefas e me deu dicas de tantas outras e terceiro as pessoas que duvidaram da minha sanidade mental em desenvolver esse projeto, essas dúvidas sempre foram e são os maiores incentivos para eu conseguir enfrentar meus desafios

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